quarta-feira, 25 de março de 2009

EU

Partindo do pressuposto que eu não posso enxergar, não é possível ver o que você está planejando ou realizando. Contudo, como poderia ter escrito esse artigo se estou cego? A resposta é muito simples: você escreveu tudo fazendo-se passar por mim. Mas se você escreveu tudo, escreveu também o silogismo acima, no qual afirma que é cego. Se você é cego não poderia ter escrito. Se considerarmos que você sou eu também não haveria resultado, pois eu haveria escrito tudo como sendo você, mas eu também estou cego, sendo que essa inversão não faria diferença nesse quesito. Estando ambos cegos, quem haveria de ter escrito essa porcaria? Trata-se de um paradoxo (como aquele do barbeiro, ou mesmo como conhecer um político honesto), ou seja, o próprio fato de haver algo escrito aqui é uma impossibilidade matemática. Mesmo assim, devemos achar uma solução para tal absurdo: proponho, então, a existência de um terceiro ser, ou um semi-ser, capaz de circular entre as realidades do "EU" e do "Você" Um espectro intermediário sem dúvida haveria de ter escrito isso daqui, mas nosso universo não comporta espaço para tal tipo de criatura, ou comporta? Esse ser não tem nome e não tem aspecto vivo, mas obviamente não é cego, só assim poderia ter digitado. Porém, esse espectro refere-se a si mesmo como "EU" durante o artigo, o que pode indicar que possui uma propensão ao "EU" em vez de a "VOCÊ". Mas, nesse caso, esse "EU" seria uma referência a mim ou a você? Estamos possivelmente ambos cegos, mas somos diferentes. Acima, ponderei se você não poderia ter sido o autor do artigo e praticamente desconsiderei essa hipótese. Mesmo assim, ainda há chance que eu esteja errado, pois você poderia ter escrito o artigo sob influência desse espectro e referido a si mesmo como eu. Nesse caso, o espectro não teria a propensão imaginada ao "EU" e sim a "VOCÊ". Sendo assim, temos as seguintes possibilidades: eu escrevi o artigo e menti dizendo que era cego (o que não é muito provável, pois essa hipótese foi analisada pelo método aristotélico), você escreveu e mentiu, o espectro escreveu com propensão ao "EU", o espectro escreveu com propensão a "VOCÊ", você escreveu com influência do espectro e "EU" escrevi com influência do mesmo. Os quatro não podem ocorrer simultaneamente e são mutuamente excludentes do ponto de vista lógico. Difícil escolha, não? Não. Sagaz como sou, proponho outra hipótese a partir de uma investigação platônica e psicológica. E se não foi a nossa parte extrínseca que produziu esse artigo? Durante minhas proposições ignorei a parte intrínseca, a alma, sendo que agora trago à tona essa nova discussão. Esse texto pode ter sido produzido pelo nosso subconsciente, não necessitando da visão para ajudar no ato de digitar. A hipótese do espectro é ainda bem interessante, mas contraria as leis da física. A não ser que esse espectro estivesse englobado em nossa (minha e sua) alma ou mesmo fosse um elemento constituinte da mesma. Mas isso provaria que a alma realmente existe; se ela existe, então os estudos teológicos teriam alguma procedência (ao contrário do que afirma a ciência) e não poderíamos ignorar a hipótese de que Deus foi o responsável (ou manifestou-se em algum ser) pelo que foi escrito. Deus teria escrito tudo isso na desciclopédia (uma grande honra, não?), informando-nos, pobre mortais que somos, sobre "EU". Contudo, há uma corrente de estudiosos que afirmam que Deus manifesta-se na própria alma humana, estando segregado entre tantas bilhões de pessoas. Todos seríamos Deus e teríamos um pouco de sua bondade. Partindo desse pressuposto, qualquer um (eu e você) poderia ter escrito o artigo, pois o fato de ser cego não impediria que nossa alma trabalhasse na digitação. Juntando todas as probabilidades, vemos que boa parte engloba o conceito de alma, tanto de um ponto de vista teológico como científico, então a chance desse texto haver sido escrito por ela faz-se superior. Não é algo irrefutável

Sendo o que for eu tenho certeza de que 99% das pessoas nao vao intender nenhuma palavra

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